terça-feira, 9 de março de 2021

Mulheres Libres




    Nesse mês de Março, preparamos algumas homenagens às mulheres anarquistas que nos ensinaram com suas histórias  e suas lutas. E para começar, saudamos as Mujeres Libres e todas as companheiras que lutam em organizações politicas ou não, pela resistência, segurança e emancipação de mulheres, em seus mais diversos e interseccionais lugares.

    Em 1934 nasce na Espanha o Grupo Cultural Feminino em conjunto com o grupo redator da revista ``Mujeres libres'' composto por três importantes anarquistas espanholas: Lucía Sánchez, Mercedes Comaposadae Amparo Poch. A federação cresceu rapidamente e em quatro anos já tinha cerca de 20.000 integrantes, se tornando assim embrião da organização anarcofeminista Mujeres Libres, criada oficialmente em 1936.

Com grande expressividade durante a Guerra Civil Espanhola, e é ainda hoje uma referência histórica no debate de gênero e anarquismo, essa organização nasce da necessidade de resistência ao machismo fora e dentro dos meios libertários, inclusive na CNT - Confederação Nacional do Trabalho. Assim, essas mulheres se organizavam em busca do que chamavam de ‘‘luta dupla’’, pela emancipação social anarquista e pela emancipação feminina.

Tinham como principais bandeiras promover para mulheres educação e capacitação para o trabalho, em meio a uma grande taxa de analfabetismo, bem como a construção de locais que funcionavam como centros de apoio a mulheres prostituídas.

Durante essa Semana faremos uma série de postagens em homenagem a algumas mulheres anarquistas que marcaram a história, começando pelas próprias organizadoras do Mujeres Libres. 


     


    Lucía Sánchez Saornil é um dos pouco nomes de anarquistas publicamente lésbicas e é com ela que abrimos nossa semana.

    Se conhecer a história de mulheres no anarquismo ou em outros movimentos sociais já é um processo de analise de apagamentos, por conta do machismo, conhecer a história de mulheres lésbicas é uma duplo desafio, graças a lesbofobia que invisibiliza suas trajetorias. Por isso mesmo, saudamos sua memória e luta.

    Lucia foi uma militante anarquista e feminista, poeta espanhola, conhecida por ser uma das fundadoras do Mujeres Libres, importante organização de mulheres anarquista. Ela também serviu na Confederación Nacional del Trabajo (CNT) e na Solidaridad Internacional Antifascista (SAI), e, entre outras coisas, publicou em gazetas importantes na década de 20, usando por vezes pseudônimo masculinos para adentrar esses espaços. Ela conseguiu explorar temáticas caras como as da lesbianidade e anarquismo, em um período em que a ‘‘homossexualidade’’ era criminalizada e as vozes femininas secundarizadas.

    Perseguida enquanto anarquista e enquanto mulher que ama outra mulheres, sem dúvida sua sexualidade foi parte das sua luta e da forma como percebia o mundo e as\os companheiras\os a sua volta.



    Amparo Poch é a primeira anarquista espanhola co-fundadora do Mujeres Libres que apresentamos aqui.

    Médica, escritora e pacifista. Cursou medicina contra a vontade do pai e a despeito do preconceito de outros homens acadêmicos, sendo a segunda mulher a se formar na Faculdade de Medicina de Saragoça e também teve formação em biologia. Atuou como diretora no Ministério de Saúde e Assistência Social e usou essa posição para criar os "liberatorios de prostitución", lares onde mulheres prostituídas poderiam receber assistência médica, psicoterapia e treinamento profissional para permitir que adquirissem independência econômica por outros meios. Assim como participou da criação da "Casa Dona Trabalhadora", onde ofertavam cursos para alfabetização e formação profissional de mulheres.

    Amparo defendia a conscientização sobre a sexualidade feminina e lutou contra a monogamia. Tinha uma relação mais próxima com a ideia da maternidade e escreveu sobre uma abordagem anarquista da criação de filhos. Também foi o co-líder da Liga Española de Refractarios a la Guerra, um braço espanhol da Internacional de Resistentes à Guerra, que ajudava vítimas do conflito da Guerra Civil Espanhola. Além disso também abriu uma clínica em Madri para atender mulheres e criança, que prezava para que fosse acessível, e lutou diretamente pela redução de mortalidade infantil e pela possibilidade de mulheres terem uma gravidez e lactação saudável.

    Amparo desafiou espaços e profissões considerados masculinos e usou suas formações para promover saúde, liberdade e conhecimento para mulheres e crianças.




    Mercedes Composada é outra anarcofeminista com importante participação na Revolução Social Espanhola de 1936, e também co fundadora do Mujeres Libres. Foi advogada e pedagoga, se dedicando a ensinar outras mulheres, principalmente nos cursos de ensino fundamental organizados pela CNT, onde enfrentava misoginia e preconceitos por parte dos operários.

    Foi filiada ao Sindicato de Espetáculos Públicos de Barcelona da Confederación Nacional del Trabajo. E contribuiu de maneira significativa para a imprensa libertária espanhola, e em seguida francesa, quando exilada em Paris. Além de ser editora chefe da revista Mujeres Libres, escrevia também para a Tierra y Libertad e Tiempos Nuevos. Na década de 70 começou a escrever um livro a partir das cartas que pediu que veteranas enviassem para ela, contando suas próprias experiências, mas infelizmente o manuscrito sumiu após a sua morte.

    Mercedes acreditava e fazia da educação seu instrumento de luta, buscando sempre compartilhar conhecimentos e formação com outras companheiras.


Por: Renata Argolo