A DETURPAÇÃO DO SETEMBRO AMARELO
Começado em 2015 como
tática de prevenção ao crescente número de suicídios, o Setembro Amarelo (do
dia 01 ao 31 do mês) é um momento em que diversas ONGs e iniciativas públicas e
privadas se dedicam a discutir não só o suicídio, mas a saúde mental do povo
brasileiro. Uma nobre iniciativa que, entretanto, em suas intervenções de
maiores repercussões midiáticas apresentam apenas soluções para o combate dos
sintomas, sem atentar que a grande doença (o capitalismo) precisa ser contestada
para que finalmente possamos falar em saúde mental do povo brasileiro.
Na perspectiva de autores
como Fromm e Guinsberg[1],
o meio social oferece aos indivíduos modelos de estruturação e funcionamento da
personalidade, e a subjetividade dos mesmos é constituída de acordo com tais
modelos. Observando atentamente as crises políticas e sociais do Brasil na
última década, é inegável pontuar que a insegurança alimentar, o desemprego, as
crises parlamentares além da desesperança que paira entre jovens e adultxs
quanto a qualidade de vida familiar e individual, são fatores extremamente
agravantes do quadro mental da população.
Nesse ensejo, parte das
campanhas do Setembro Amarelo que invadem os ambientes familiares através da
televisão e internet fazem o desserviço de depositar no indivíduo as
ferramentas necessárias para vencer quadros de depressão e ansiedade. Slogans como: “Você é forte”; “Procure
relaxar”; “Medite”; “Estamos juntos”, são algumas das inúmeras frases de efeito
de uma campanha branca e burguesa que reforça a meritocracia.
Para um simples exemplo
usaremos o cotidiano de trabalhadorxs em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro
e Salvador que além de terem turnos de mais de 08 horas de trabalho precisam de
transportes públicos lotados para se locomoverem, ganhando um salário mínimo
que mal paga transportes e alimentação super inflacionada e as necessidades
familiares. Em que momento estes indivíduos poderão “meditar” para combater a
ansiedade e/ou depressão?
Um “Setembro Amarelo”
branco e burguês só serve para adestrar a massa trabalhadora e reforçar os
ideais neoliberais. Descolonizar essas campanhas é necessário para falarmos a
partir da realidade dxs subalternizadxs, precisamos de ações que mirem no
combate ao capital e ao neoliberalismo, os principais vilões da saúde mental do
povo brasileiro.
Campanhas por Vida Digna
e soberania alimentar; organizações insurgentes dos povos indígenas,
quilombolas e sertanejos; a Teia dos Povos, a Reaja e grupos políticos como os
anarquistas são algumas das inúmeras formas existentes de contestação a esse
modelo. Combater o capitalismo e ressignificar o trabalho é uma forma potente
de suprimir os transtornos que assolam a saúde mental da população. Uma
comunidade forte, com indivíduos lutando ombro-a-ombro é o verdadeiro slogan
para um Setembro Amarelo.
[1]
CAMBAÚVA, Lenita Gama; SILVA JUNIOR, Mauricio Cardoso da. Depressão e
neoliberalismo: constituição da saúde mental na atualidade. Psicologia: ciência
e profissão, v. 25, p. 526-535, 2005.
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