terça-feira, 3 de agosto de 2021

DE OLHO NO AGORA

 




A militância no anarquismo especifista se dá no dia a dia, na luta popular, na construção de formas autônomas de vida, no embate contra o autoritarismo/governismo, e na busca incansável por uma sociedade mais justa e libertária.  E para que tudo isso aconteça é importante que tomemos conhecimento da realidade ao nosso redor, das dificuldades que nós enquanto povo enfrentamos na rotina diária da correria, para que saibamos mais como agem nossos inimigos de classe, e assim possamos melhor combate-los.


Por perceber a importância de se ligar no que rola na Bahia, iniciaremos uma série de textos de análises de conjuntura no cenário baiano, também refletindo como o panorama nacional atinge nosso local de luta.

DE OLHO NO AGORA - A BAHIA E O BRASIL EM JUNHO E JULHO 



 

VIOLÊNCIA E DESEMPREGO

Antes mesmo de junho chegar, os boletins publicados no último dia de maio nos informavam que a Bahia ocupou no primeiro trimestre de 2021 o primeiro lugar no ranking de mortes violentas registradas no país[1]. No dia 22 de Junho, em pleno São João, um novo boletim publicado nos informava que o estado teve em 2020 um aumento de 137,5% de trans assassinadas violentamente em relação a 2019[2]. Em meio a esse cenário, o governo de Rui Costa continua seu silêncio sobre o caso do menino Micael Silva, (que completou um ano no dia 14 de junho e que segue sem apuração e nem resposta) ampliando a certeza do comprometimento do governo baiano com o genocídio sistemático da população negra[3]. Enquanto isso, os agrupamentos opositores e partidários do governo estadual empurram uns para os outros a culpabilidade dos índices, cada vez mais alarmantes, de criminalidade no interior e na capital.

Por outro lado, o desemprego se espalha pelos municípios baianos cerceando as possibilidades de vida digna para mais de 1,386 milhão de cidadãos. Segundo pesquisas divulgadas no fim de maio pelo IBGE, a taxa de desemprego nos primeiros meses de 2021 atingiram 21,3% da população na Bahia, que é muito acima da média nacional, configurando-se como a maior do país[4] .


AS ESQUERDAS E OS PROTESTOS DE RUA 

Os atos de protesto no 29 de maio contra Bolsonaro (inicialmente mobilizados por vários movimentos sociais e que na sua véspera no dia 28 já tinham confirmadas 186 manifestações[5]),  representou segundo alguns analistas um novo ciclo de lutas[6] que se abre ante ao desgate institucional e popular do governo genocida. Mas é preciso ressaltar que se o campo multifacetado da esquerda conseguiu enfim articular algum nível de mobilização contra a aterradora gestão atual da calamidade pública, isso se deu principalmente por fora das linhas do Estado. Os principais partidos ditos de esquerda em um primeiro momento se lançaram contra a mobilização dos atos[7], ora sinalizando que seria um atentado contra as medidas sanitárias, ora indicando que o correto seriam atos virtuais e simbólicos. Porém, mediante a força da mobilização ao redor do Brasil, resolveram apoiar os atos de última hora e tentar capitanear ao máximo esse ganho político para as próximas eleições. Essa estratégia não só deu certo em alguma medida, que o PT na Bahia desde cedo já anunciava seu apoio para os atos seguintes do dia 19 de junho.[8]

 Essa ambiguidade na postura da esquerda autoritária é compreensível se observarmos um pouco mais de perto o seu cálculo político. Que se baseia no desgaste lento e gradual do governo Bolsonaro até às eleições, ao mesmo tempo que não toma a linha de frente desse combate. Essa estratégia traria duas benesses, a primeira seria a de preservar a imagem dos seus partidos e candidatos contra toda animosidade que uma crítica mais contundente traria, deixando-os mais à vontade na articulação com todo o campo institucional ( vide FHC declarando voto a Lula[9], e Marcelo Freixo saindo do PSOL e indo para o PSB[10]); e em segundo lugar deixaria Bolsonaro enfraquecido para a disputa eleitoral, quando enfim o arauto da vez da esquerda autoritária  poderia se mostrar mais livremente.

No entanto, essa estratégia de inércia fingida tem seus riscos, e não mobilizar de forma alguma suas bases eleitoreiras pode fazer com que tais partidos não tenham fôlego no pleito de 2022. Isso se mostrou claramente no 1º de maio, que sendo uma data da classe trabalhadora teve pela primeira vez nos últimos anos uma mobilização considerável por parte dos segmentos reacionários. O que não é desprezível tendo em vista o que essa data representa e a força que tem em outros países da América Latina. Por outro lado apoiar uma instabilidade política ainda maior faz com que tal esquerda autoritária diminua a previsibilidade de seus cálculos para 2022. Sendo assim, como ficou evidenciado a amplitude de tais atos, tais partidos preferiram dar um apoio envergonhado do que ficar de fora totalmente, o que poderia manchar suas reputações de alguma forma. Na prática o que se viu foi uma presença marcada pelos movimentos sociais, esquerdas libertárias e esquerdas institucionais que em boa parte dos atos capitanearam para si os atos.

A adesão partidária se confirmou nos atos do dia 19 de junho (com 408 atos confirmados)[11], o de 3 de julho (com 119 atos confirmados)[12] e 24 de julho (com 284 atos confirmados)[13], em um cenário que a imagem do governo começa a entrar em índices de rejeição cada vez mais altos.[14] Isso se dá mediante os escândalos quase que diários da CPI da covid que revelam várias tramas de corrupção envolvendo as compras das vacinas.  Desse modo, em termos de disputa da opinião pública os atos tem reforçado a rejeição ao governo genocida que se revela cada mais insustentável em manter mobilizada sua base.

Por outro lado, por parte da esquerda institucional o que se vê é um cuidado para que os atos não escalem novos tensionamentos contra a ordem vigente, e se mantenham dentro do ordenamento jurídico burguês; uma vez que se mantendo dentro do recharço institucional previsto, a trilha eleitoreira segue bem sucedida. Nesse sentido é que se compreende o porquê de setores partidários contribuírem para a criminalização de táticas como black blocks, o que trouxe à baila novamente várias discussões sobre a legitimidade ou não de radicalização em protestos, de modo semelhante ao que ocorreu em 2013.


EDUCAÇÃO PÚBLICA

Ainda no mês de junho foi decretado pelo governo do estado o retorno das aulas semipresenciais, a ser condicionado pelas as taxas de contaminação e internação[15], porém é preciso ressaltar que estudos recentes apontam que em São Paulo professorxs que trabalharam presencialmente nas escolas tiveram risco quase três vezes maior de desenvolver Covid-19 do que a população da mesma faixa etária no estado. Além do mais foi constatado que o número de contratos de trabalho no setor de educação encerrados por motivo de morte cresceu 128% de janeiro a abril deste ano, se comparado ao mesmo período do ano passado.[16]


Associando isso ao fato de que assistimos um aumento dramático dos contágios em diversos países nos quais a variante delta da Covid-19 tem se propagado[17], vemos que caso essa abertura presencial se estenda a toda a rede de educação do estado, o que pode ocorrer é um aumento vertiginoso de internações e mortes dxs profissionais da educação. Vale lembrar que esse aumento da contaminação por parte da variante delta tem se mostrado em países com um alto grau de controle e monitoramento das contaminações o que é bem distinto de nossa realidade sanitária.[18]




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