sexta-feira, 22 de maio de 2020

Casos de Feminicídio Crescem Durante a Pandemia


“Feminicídios em BH: Duas mulheres foram mortas pelos companheiros. Um suspeito foi preso”; “Mulher é vítima de feminicídio em São Cristóvão”; “Casos de feminicídio sobem 73% nos primeiros três meses de 2020 em relação ao ano anterior no RS”; “Suspeito de matar a mulher em SP é preso em bar ao beber após o crime.” “Casos de feminicídio dobram no Acre e governo faz campanha contra violência doméstica”

Essas são algumas entres tantas manchetes de diversos sites e reportagens televisivas relatando casos de feminicídio em todo o país só esse ano. Os casos se agravam a partir de março, que inclusive é quando começa o isolamento social recomendado pela OMS por conta da pandemia. Os assassinatos dessas mulheres são efetuados de forma cruel e calculista. Em alguns relatos o agressor diz “sair de e si durante o ato”, todos os relatos apontam que a causa foi o ciúmes ou posse. O curioso é observar quantos desses homens se autodeclaram, logo após o feminicídio, vítimas da própria “insanidade”. Quando, na verdade, o nome que se dá é crime premeditado. Vejam aqui alguns relato sobre casos que aconteceram em abril desse ano: 
“A Polícia Civil de Boituva, a 121 km de São Paulo, prendeu anteontem um homem de 32 anos suspeito de matar a própria esposa, enrolar o corpo dela em um cobertor e ir a um bar antes de sumir com o cadáver. “

“A chilena Karina Constanza Bobadilla Chat, de 22 anos, morta com mais de 20 facadas no dia 1º de fevereiro em Rio Branco. O motivo do crime, foi porque a vítima não aceitava um relacionamento com o suspeito.”

“Katiane de Lima, de 23 anos, foi calada de forma brutal pelo companheiro dela com pelo menos três facadas, no pescoço, braço e costelas. Ela estava com o filho no colo na hora que foi assassinada “

“O da servidora pública Sara Araújo de Lima, de 38 anos, morta a tiros, no dia 13 de abril. O autor dos disparos foi o marido dela, Jorge Alberto Franco Filho. Eles já tinham se separado por ameaças do companheiro, Sara chegou a registrar queixa, mas os dois reataram e tudo acabou com os dois mortos.”

Em todos os casos, o assassino utiliza da mutilação, afogamento, esfaqueamento, utilizam ferramentas como chaves de fenda, martelo, pedra, foice, arma de fogo, para matar sua companheira. Segundo a pesquisadora, Jackeline Aparecida Ferreira Romio, autora do estudo "Feminicídios no Brasil: Uma Proposta de Análise com Dados do Setor de Saúde”, a  agressão é praticado por homens que tinham histórico de explosões de ciúme. É como se eles entendessem que aquele corpo feminino pertencesse a ele. Uma vez que a mulher não "obedeceu" à regra, ele quis destruí-lo. A mutilação vaginal ou de rosto está presente em 40% dos casos.

Mas porque homens se sentem no direito de tirar a vida de mulheres? Porque na maioria das vezes a causa dessas mortes se dá pelo sentimento de posse sob o corpo dessas mulheres? 

Vamos começar pela objetificação das mulheres sustentadas pelo patriarcado O feminicídio se constrói aos poucos, nos detalhes do dia a dia da relação. Vem maquiado de ciúmes, cuidado, amor, contada de geração em geração, para  homens e mulheres, desde a infância, em nome da manutenção do patriarcado e da submissão da mulher. Mulheres durante a história foram submetidas ao papel unicamente satisfatório para os homens, desde aos desejos físicos básicos como alimentação, até os desejos sexuais. Isso se dá muito por conta do construção da masculidade e como ela influenciou no comportamento do homem e na exigência dos mesmos sobre o comportamento da mulher. Por ser alimentada essa ideia moral cristã de que mulheres devem  submissão aos homens por toda uma sociedade imersas à ideologias machistas e sexistas,  muitas vezes romantiza-se a posse como sinônimo de amor. Isso é alimentado em romances na literatura, novelas, músicas. Existe todo um contexto social que faz com que o homem se enxergue como o provedor, o herói, o macho alfa, enquanto a mulher como um ser vulnerável, fraco e dependente (falo sem aprofundar num quisito raça, em que para as mulheres negras e os homens negros são dados papéis muito mais agressivos, mas aí é um papo para um outro texto). Quando uma mulher rejeita a atenção de um homem, esse tem sua masculinidade ferida, e como ele “não pode” demonstrar fragilidade, apela para a violência. Só que esse apelo tem matado mulheres todos os dias e culpado essas mesmas mulheres por suas mortes! 

Durante o isolamento social o índice de violência contra mulher física e sexual cresceu de forma exorbitante, porém diminuiu o numero de denúncias. As vítimas não conseguem se deslocar das suas casas para fazerem as denúncias por conta das medidas de proteção anunciadas pela OMS e porque estão expostas aos agressores vinte e quatro horas dentro de suas casas e por conta do medo, elas não dão a queixa. Há casos em que o corpo da vítima só foi encontrado alguns dias depois do crime por alguns vizinhos escondido em algum cômodo da sua casa. Os vizinhos encontraram por conta do mal cheiro. 

Mulheres têm seus corpos silenciados com a desculpa do “amar demais” Quem ama não machuca. Em tempos de isolamento, a exposição desses corpos para com seus agressores é ainda maior e tem acabado com mulheres sendo assassinadas. O pior é a naturalização dessas situações e a culpabilização da vítima em todos os casos pela sociedade e muitas vezes, a negligencia de tantos outros pelo Estado. 
Quantas vezes uma mulher terá que gritar para ser ouvida e sua vida ser poupada?






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