sexta-feira, 15 de maio de 2020

“E se uma nova geração de profissionais fosse perdida?”




É com esse slogan que o Ministério da Educação convida em rede nacional estudantes secundaristas para a realização do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) – o que é habitual nessa época do ano, se não fosse o fato de estarmos vivendo uma pandemia por conta da COVID-19.


Há alguns meses setores da sociedade foram orientados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) a serem paralisados, dentre eles as escolas e aulas foram suspensas por tempo indeterminado. Nesse período, a modalidade de ensino a distância, conhecida como EAD foi adotada: as aulas presenciais foram substituídas e agora acontecem através de transmissões ao vivo, popularmente conhecida como lives, as avaliações são feitas em casa, há a possibilidade dos estudantes tirarem dúvidas com seus professores através de plataformas adotadas pela escola; enfim, uma série de recursos foram adotados para que o ensino não fosse prejudicado. 

Mas para quem esses recursos e tecnologias estão sendo direcionados?

Antes de tudo é preciso saber que, segundo uma pesquisa* realizada pelo TIC Domicílios em 2017 e divulgada em julho do ano posterior, pelo Comitê Gestor da Internet, no Brasil temos “27 milhões de residências desconectadas, enquanto outras 42,1 milhões acessam a rede via banda larga ou dispositivos móveis”, sendo que nas classes mais baixas o índice de pessoas sem acesso a internet é de 70%, enquanto que nas classe mais abastardas 99% dos domicílios possuem alguma forma de acesso.

É necessário trazer esses números a mostra, para voltarmos à pergunta que a propaganda do governo nos faz “E se uma nova geração de profissionais fosse perdida?” – é nítido para nós que uma nova geração já está sendo perdida há algum tempo: quando não há estrutura no ambiente escolar para os estudantes, falta de livros e laboratórios de pesquisa, salas de aula superlotadas.  Sobretudo agora, é perceptível a disparidade entre o ensino privado onde métodos EAD estão sendo utilizados e o ensino público, onde estudantes que são em sua maioria pobres não possuem acesso a esses meios  na escola, tampouco em suas residências.

Manobras para continuar os estudos são feitas diariamente, usando a internet do vizinho para baixar o material, ou se descolando a outro ponto para conseguir o sinal. Essa é uma das realidades que o atual governo fecha os olhos. O quão interessante é para o Estado que um ou uma jovem negro (a) secundarista, ingresse no ensino público superior? Para o regime que vivemos essa geração de profissionais deve ser de fato perdida e vire mais um número na estatística seja ela a do desemprego ou morte.

Apesar do delicado momento em que todos nós estamos vivendo, se faz necessário refletir e, sobretudo, lutar contra um sistema opressor que a cada dia que passa crava ainda mais suas garras e dilacera de todas as formas possíveis o povo pobre e periférico. Não é o momento de continuarmos como se nada estivesse acontecendo e seguir a diante com o ENEM, tampouco de pedir o adiantamento das provas. Adiantar esse exame, que para muitos é a oportunidade de fazer uma faculdade e ser o primeiro, a primeira da família a estar no ensino superior e não fazer parte das estatísticas é de fato a solução? Precisamos lutar para um ensino público, de qualidade a todas e todos!

Tampouco, não podemos nos iludir com o ensino a distância – visto como uma medida de urgência nesse momento de crise é um projeto de sucateamento e desvalorização dos professores. O ensino através de lives e vídeo aulas gera uma falsa compreensão dos conteúdos administrados, além disso, o governo pode não contratar novos professores e demitir os existentes tendo como base o EAD. O ambiente é escolar vai muito além da relação professor x estudante: coordenadores, diretores, auxiliares escolares, fazem parte do ambiente físico da escola, de sua estrutura e funcionamento, todos serão afetados caso no futuro o EAD seja adotado como nova forma de ensino. 

A educação segue sendo nossa maior arma contra os gritos de tirania sobre nosso povo, não podemos deixar que o ambiente escolar deixe de existir, pelo contrário: temos que resistir, lutar e criar um poder popular!

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